Queda de braço

Queda de braço

domingo, 3 de agosto de 2014

Intuição das penas futuras




"Em todos os tempos, o homem acreditou, por intuição, que a vida futura deveria ser feliz ou infeliz, em razão do bem ou do mal que se faz nesse mundo; apenas a ideia que disso faz está em relação com o desenvolvimento do seu senso moral, e as noções, mais ou menos justas, que tem do bem e do mal; as penas e as recompensas são o reflexo dos seus instintos predominantes. Assim é que os povos guerreiros colocam a sua suprema felicidade nas honras prestadas à bravura; os povos caçadores, na abundância da caça; os povos sensuais, nas delícias da volúpia. Enquanto o homem está dominado pela matéria, não pode senão imperfeitamente apreender a espiritualidade, e é por isso que ele faz, das penas e dos gozos futuros, um quadro mais material do que espiritual; ele imagina que se deve beber e comer no outro mundo, mas melhor do que na Terra, e de melhores coisas. Mais tarde, encontra-se nas crenças acerca do futuro, uma mistura de espiritualidade e de materialidade; é assim que, ao lado da beatitude contemplativa, coloca o inferno com torturas físicas.

Não podendo conceber senão o que via, o homem primitivo, naturalmente, decalcou seu futuro sobre o presente; para compreender outros tipos além daqueles que tinha sob os olhos, lhe seria preciso um desenvolvimento intelectual que não deveria chegar senão com o tempo. Também o quadro que se faz dos castigos da vida futura não é senão o reflexo dos males da Humanidade, mas em mais larga proporção; reuniu todas as torturas, todos os suplícios, todas as aflições que encontra sobre a Terra; é assim que, nos climas quentes imaginou um inferno de fogo, e nas regiões boreais, um inferno de gelo. Não estando ainda desenvolvido o sentido que deveria fazê-lo compreender o mundo espiritual, não podia conceber senão penas materiais; por isso, com algumas diferenças apenas de forma, os infernos de todas as religiões se assemelham."

Allan Kardec, O Céu e o Inferno, Capítulo IV, Itens 1 e 2


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